Desafios no controle de RNI em paciente com hemoconcentração secundária à Tetralogia de Fallot – Relato de caso
Introdução
A tetralogia de Fallot é a cardiopatia congênita cianótica mais frequente e, com o aumento da sobrevida, a profilaxia para eventos tromboembólicos se faz necessária em razão de valores altos de hematócrito (Ht), hiperviscosidade e arritmias atriais.
Relato de caso
Paciente masculino, 46 anos, casado, branco, procedente de Suzano/SP, fazia acompanhamento em ambulatório de cardiologia congênita e de anticoagulação e mantinha queixa de dispneia aos moderados esforço. Apresentava antecedente de dislipidemia, pré-diabetes, hiperuricemia e tetralogia de Fallot extremo com 3 cirurgias paliativas: a primeira aos 14 dias de vida e a última aos 18 anos (derivação Blalock-Taussig).
Havia sofrido trombose cerebral aos 30 anos em topografia parieto-occipital esquerda, sem sequelas, e aos 32 anos, estenose da Blalock-Taussig, tratada com stent em 2017. Estava em uso de captopril, carvedilol, espironolactona, dapagliflozina, furosemida, sinvastatina, alopurinol, metformina e varfarina conforme razão normalizada internacional (RNI).
O exame físico revelava cianose de extremidades, sem desconforto respiratório; PA 101x72mmHg, FC 92bpm, SpO2 80% em ar ambiente, bulhas hiperfonéticas com sopro sistólico em foco pulmonar 2+/6+ e baqueteamento digital; sem demais alterações.
Em seguimento de RNI, foi identificado labilidade de resultados sem causas de descompensação. Em nova coleta, o resultado foi “amostra incoagulável”. Em segunda coleta, foi ajustado citrato em tubo azul conforme Ht (75%) e analisada com analisador por ímã já que o analisador óptico (normalmente usado) pode apresentar interferência por lípides, icterícia e Ht misturado ao plasma. Observado RNI 1,7; o paciente não estava anticoagulado.
Devido às dificuldades para o controle de RNI, optado pela anticoagulação com rivaroxabana 20mg 1x/dia. O paciente encontra-se em seguimento ambulatorial sem intercorrências.
Conclusão
A Tetralogia de Fallot é uma cardiopatia congênita associada a eventos tromboembólicos cuja recomendação é a anticoagulação com inibidores de vitamina K. Entretanto, em pacientes com Ht muito elevado, o RNI pode estar falsamente elevado, o que se traduz em um paciente não anticoagulado e sob risco de eventos embólicos. Diante desse contexto, foi optado pelo uso de anticoagulante direto nesse paciente.