Introdução
A presença de Hipertensão Pulmonar (HP) é um importante complicador relacionado à valvopatia mitral, sendo fator de indicação para abordagem valvar. Contudo, alguns pacientes seguem progredindo a HP com componente pós capilar, mesmo após correção valvar completa, levando a aumento da morbimortalidade.
Relato
Mulher, 76 anos, com valvoplastia mitral por cateter-balão por estenose mitral reumática. Evoluiu assintomática, com ecocardiograma demonstrando Pressão Sistólica da Artéria Pulmonar (PSAP) de 77mmHg e insuficiência tricúspide moderada. Após 3 anos interna com piora clínica, novo ECOTT sem progressão das valvopatias, porém com aumento de PSAP para 173mmHg. Investigadas outras causas de HP: angiotomografia sem sinais de tromboembolismo, provas de função pulmonar e Tomografia de tórax normais. Realizado cateterismo direito com achado de HP com componente misto: Pressão Arterial Pulmonar média de 45mmHg, Pressão de Capilar Pulmonar (PCP) de 20mmHg e Resistência Vascular Pulmonar (RVP) de 8.6W, demonstrando o remodelamento progressivo da vasculatura pulmonar decorrente da valvopatia prévia. Foi otimizada diureticoterapia e intensificada fisioterapia respiratória na internação, recebendo alta cerca de 1 mês após em uso de oxigênio por HP fixa.
Discussão
Sabe-se que até 65% dos pacientes submetidos a correção mitral apresentam HP, sendo que se espera uma redução na PSAP após a correção valvar. Paradoxalmente, alguns pacientes, por mecanismos ainda não completamente elucidados, seguem progredindo a HP, com níveis elevados de RVP e de PCP, denotando um componente pós capilar, mesmo em valvopatias corrigidas e sem lesões residuais. Nesses casos, os pacientes podem apresentar remodelamento irreversível da artéria pulmonar. Acredita-se que esta progressão possa estar relacionada à presença de fibrilação atrial, aumento atrial e mecanismos neurohormonais que levam ao remodelamento arteriolar e venular.
O problema da manutenção da HP no pós operatório é a persistência do dano ao ventrículo direito e risco de desenvolvimento de insuficiência cardíaca. Esses pacientes possuem desfechos cardiovasculares piores em relação aos que têm reversão completa da HP após a correção valvar. O tratamento, como instituído no caso, é a manutenção da euvolemia, suporte ventilatório adequado e evitar taquicardia.
Conclusão
A progressão da HP mesmo após a correção da valvopatia mitral mostra a importância de se identificar precocemente e não postergar a abordagem valvar, principalmente em pacientes que já apresentem sinais de HP ou disfunção tricúspide.