INTRODUÇÃO: A dissecção de aorta (DA) ocorre devido a uma ruptura total ou parcial no endotélio da túnica íntima da artéria, com alta taxa de mortalidade nos casos agudos. A relação entre DA e o uso de substâncias psicoestimulantes (SPE) pode facilitar o diagnóstico precoce, melhorando as chances de sobrevida. Este estudo visa avaliar a incidência de uso de SPE entre os pacientes de um hospital terciário no Brasil tratados para DA nos últimos 10 anos e verificar se este uso está relacionado a fatores de pior prognóstico em pacientes que usaram SPE no pré-operatório. METODOLOGIA: Estudo retrospectivo com coleta de dados, armazenados em planilha específica, sobre o tratamento dos pacientes. Coletados dados demográficos, perioperatórios e peri-tratamento do quadro agudo (quando não houve conduta cirúrgica). Todos os pacientes com DA, contactáveis e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram questionados sobre o uso de SPE. Aqueles não contactáveis ou que evoluíram para óbito tiveram seus dados obtidos por pesquisa em prontuário. Os dados foram submetidos a análise estatística. As variáveis descritivas foram expressas em frequência e percentis, e as variáveis contínuas foram analisadas quanto à normalidade e submetidas aos testes de Student t ou Mann-Whitney, quando aplicável. O nível de significância adotado foi de 95% (p<0,05). RESULTADOS: Aproximadamente 10% dos 216 pacientes tratados por DA aguda no período definido relataram o uso de SPE. Os resultados globais de mortalidade hospitalar foram compatíveis com a literatura. Ao comparar os grupos, observou-se que os pacientes com histórico de uso de SPE eram significativamente mais jovens e apresentaram menor mortalidade do que o grupo sem esse antecedente. Isso pode ser explicado, justamente, pela menor idade dos pacientes com história de SPE. Não houve diferença entre os grupos em relação à entrada no serviço com hipertensão, presença de antecedente de hipertensão arterial sistêmica, ventilação mecânica prolongada ou uso prolongado de drogas vasoativas no pós-operatório. O grupo com antecedente de uso de SPE apresentou mais fibrilação atrial (FA) no pós-operatório em comparação ao grupo sem esse histórico. CONCLUSÕES: O uso de SPE é um antecedente relevante nesta população, estando associado a maior ocorrência de FA pós-operatória, apesar dos pacientes com esse histórico serem mais jovens. Esse antecedente deve ser inquirido à chegada ao serviço de emergência, para orientar as estratégias de manejo e otimizar os cuidados pós-operatórios.