INTRODUÇÃO
A Cardiomiopatia Hipertrófica (CMH) é doença cardíaca genética comum, com padrão autossômico dominante e distribuição igual entre os sexos. Caracteriza-se predominantemente por hipertrofia do ventrículo esquerdo (VE), na ausência de outra doença capaz de produzir hipertrofia importante. O diagnóstico de CMH pode ser estabelecido através de ecocardiograma (ECO) ou ressonância magnética cardiovascular (RMC) mostrando uma espessura da parede diastólica final máxima do VE ≥15mm. Os pacientes com CMH são suscetíveis à isquemia miocárdica por incompatibilidade entre a oferta e a demanda de oxigênio do miocárdio. A isquemia da região apical pode ser um dos mecanismos que contribui para o desenvolvimento de aneurismas do ventrículo esquerdo.
RELATO DO CASO
Paciente de 54 anos, sexo feminino, com antecedente de hipertensão arterial sistêmica, depressão e tabagismo prévio, iniciou com quadro de dor torácica típica e eletrocardiograma do pronto atendimento da cidade de origem com padrão de bloqueio de ramo direito e supradesnivelamento do segmento ST em parede inferolateral (Figura 1). Realizada trombólise química, apresentando melhora do quadro álgico, porém com manutenção do padrão eletrocardiográfico.
Encaminhada ao hospital referência, encontrando-se assintomática na admissão e com troponina 63 (valor de referência = até 14), sendo submetida a realização de cineangiocoronariografia de urgência que revelou coronariopatia aterosclerótica obstrutiva discreta e ventriculografia com volume sistólico final do VE aumentado e moderada disfunção sistólica por discinesia de parede apical (Figura 2), com aspecto semelhante a Síndrome de Takotsubo. ECO com aneurisma apical do VE, disfunção contrátil do VE de grau discreto e insuficiência mitral de grau discreto.
Meses após a alta hospitalar, realizada RMC sendo visto: hipertrofia miocárdica septal (17mm no segmento anterosseptal médio e 19mm no segmento inferosseptal médio); aneurisma apical com fibrose de característica não isquêmica, no segmento anterior médio e juncional inferior; estudo compatível de CMH Assimétrica Septal com aneurisma apical (figura 3).
CONCLUSÃO
A CMH pode simular quadro clínico de Síndrome de Takotsubo, com características similares na cineangiocoronariografia. Tal situação decorre da isquemia miocárdica causada pela significativa hipertrofia miocárdica, resultando na formação de aneurisma apical. A evolução clínica do paciente, a persistência de alterações eletrocardiográficas e estruturais vistas por exames de imagem como Ecocardiograma e RMC auxiliam no diagnóstico diferencial.