Introdução. A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) se apresenta, em 76% dos casos, como obstrutiva, quando o gradiente máximo de via de saída de VE (GVSVE) é superior a 30 mmHg. Em casos graves de GVSVE>50 mmHg, associados a sintomas refratários, indica-se miectomia como terapia invasiva de escolha. Contudo, alguns pacientes mantêm-se sintomáticos e com GVSVE residual significativo a despeito da redução septal cirúrgica. Descrevemos uma série de casos onde foi realizada a ablação septal por radiofrequência (ASRF) nesse perfil de pacientes.
Métodos. Estudo retrospectivo, observacional, de centro único, baseado em série de casos. Análise estatística na avaliação da eficácia da redução do GVSVE entre miectomia e ASRF pelo método t pareado, com p<0,05 significativo.
Resultados. Incluídos 6 pacientes portadores de CMH obstrutiva, quatro adultos (um masculino) e duas crianças (um masculino), submetidos à miectomia septal, com idade média de 40±24,5 anos, GVSVE ao repouso/provocativo de 118±24 mmHg, todos em classe funcional (CF) III. Devido à refratariedade ao procedimento, refletida em cinco pacientes permanecendo em CF III e um indivíduo em CF IV, além de manutenção de obstrução de VSVE (GVSVE=103±32 mmHg mesmo após queda de 16±26,7 mmHg), a totalidade amostral foi submetida à ASRF depois de um período médio de 61,1±56 meses (idade média de 46±25,4 anos). Observou-se melhora significativa da obstrução de VSVE (GVSVE=34±32,8 mmHg), com redução de 68±32 mmHg, permanecendo apenas 1 paciente com GVSVE>30 mmHg, evidenciando, nesses casos, superioridade da ASRF relação à miectomia (t(5)=-3,09; p<0,05). Houve aprimoramento da CF em todos os pacientes, permanecendo quatro em CF I e dois em CF II, sem complicações no pós-operatório.
Discussão e conclusão.Em pacientes com CMH obstrutiva, a miectomia, tratamento invasivo padrão-ouro, pode apresentar resultados insatisfatórios em menos de 10% dos casos, com GVSVE elevado, associado à manutenção de sintomas limitantes. A reabordagem cirúrgica apresenta elevado risco operatório, enquanto que o tratamento medicamentoso com o mavacantem, apesar de eficiente, ainda é pouco acessível. A ASRF demonstrou-se um tratamento eficaz e seguro nesse perfil de pacientes, haja vista uma queda significativa do GVSVE que se refletiu na melhora clínica significativa. Ressalta-se, como limitação à análise, a provável mudança da localização obstrutiva entre a miectomia e a ASRF.