INTRODUÇÃO: A disfunção ventricular relacionada ao uso de quimioterápicos, de acordo com a 2ª Diretriz Brasileira de Cardio-oncologia, é definida como a redução ≥ 10% na Fração de Ejeção do Ventrículo Esquerdo (FEVE) para valor abaixo do limite inferior da normalidade (< 50%), em pacientes sob tratamento quimioterápico ou sobreviventes ao câncer, excluindo-se outras causas.
Antraciclinas são drogas com potencial cardiotóxico. Em 1971, descreveu-se que a cardiotoxicidade por antraciclinas seria dose-dependente. Estudos mostram que o risco de toxicidade aumenta com associação a outros quimioterápicos, radioterapia, sexo feminino, extremos de idade, obesidade e doença estrutural cardíaca. É chamada tardia ao surgir após 01 ano do fim do tratamento.
RELATO DE CASO: Mulher, 49 anos, sobrevivente ao câncer - osteossarcoma de fêmur diagnosticado em 1997, submetida a tratamento cirúrgico e quimioterápico com Doxorrubicina, Carboplatina e Ifosfamida, encerrado em 1998. Em acompanhamento desde então com a cardio-oncologia em hospital de referência.
Realizou ao longo dos anos consultas anuais para avaliação clínica, vigilância de lípides, glicemia, níveis pressóricos, sinais e sintomas de insuficiência cardíaca (IC). Além da realização de Ecocardiograma Transtorácico . (ECOTT).
Manteve-se assintomática, com FEVE preservada até a consulta de 2023, na qual não tinha queixas, mas o ECOTT revelou queda da FEVE e alteração do Strain Longitudinal Global (SLG). (TABELA I). Diagnosticada a disfunção ventricular por cardiotoxicidade, iniciou tratamento com IECA, carvedilol e espironolactona. Seguiu assintomática, tolerou introdução das medicações e o ajuste até doses plenas. Em exames posteriores, recuperou FEVE.
DISCUSSÃO: A prevenção da cardiotoxicidade deve ser realizada em todos os pacientes, com reconhecimento dos fatores de risco cardiovasculares desde a consulta inicial. Nos pacientes em tratamento com antracíclicos o ECOTT com SLG a cada 3 meses e a dosagem de biomarcadores, são recomendados para os assintomáticos, e a qualquer momento, se surgirem sintomas. Após o término do tratamento, as avaliações trimestrais tornam-se semestrais ou anuais por toda a vida. Mesmo recuperando a FEVE, orienta-se a manutenção do tratamento.
O osteossarcoma, é uma neoplasia de maior incidência na adolescência, tratada com doses altas de antraciclinas. Sobreviventes ao câncer pediátrico têm até 15 vezes mais chance de desenvolver IC do que os controles pareados de mesma idade. É fundamental o seguimento dos sobreviventes e controle rigoroso dos fatores de risco cardiovasculares.