INTRODUÇÃO: a hiperlactatemia refere-se ao aumento do lactato sérico acima dos níveis fisiológicos normais. Estudos demonstram a relação entre níveis elevados de lactato e desfechos desfavoráveis em pacientes heterogêneos no ambiente intensivo, entretanto há escassez de estudos que avaliem a mensuração do lactato em pacientes com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) por Covid-19. OBJETIVO: avaliar o impacto da hiperlactatemia em desfechos clínicos desfavoráveis de pacientes com SRAG no contexto da Covid-19 em unidades de terapia intensiva (UTIs) de Sergipe. METODOLOGIA: Trata-se de uma coorte retrospectiva realizada em UTIs de cinco hospitais do estado de Sergipe (públicos e privados). Foram incluídos pacientes de ambos os sexos com idade ≥ 18 anos, permanência > 24 horas e que possuíam RT-PCR positivo para Covid-19. Os dados foram extraídos de prontuários de pacientes admitidos entre de abril de 2020 e janeiro de 2022, utilizando instrumento de coleta padronizado. Houve análise de dados no Jamovi 2.3.28, utilizando testes estatísticos apropriados. A amostra contou com 119 pacientes, sendo 32 com lactato sérico ≥ 2mmol/L e 87 com níveis < 2mmol/L. RESULTADOS: a mortalidade foi maior entre os pacientes com lactato elevado (22/32; 68,75%), mas não mostrou relevância entre os grupos (p-valor 0,077). Entretanto, a hiperlactatemia foi associada a um maior risco de morte em comparação aos níveis normais do biomarcador, com risco relativo (RR) de 1,58. Em análise de regressão logística, o nível de lactato admissional da UTI mostrou aumento significativo nas chances de óbito (odds ratio 1,804; intervalo de confiança 95% 1,065 – 3,06; p-valor 0,028). Além disso, por meio dos testes de Kaplan-Meier e Log-Rank foi verificado que níveis de lactato ≥ 2mmol/L esteve associado à maior mortalidade e redução no tempo de sobrevivência em relação ao lactato < 2mmol/L (mediana 13 versus 23 dias; p-valor 0,002). Ao menos 65,6% dos pacientes com lactato elevado apresentaram algum tipo de complicação cardíaca, comparados aos 42,3% que possuíam lactato normal (p-valor 0,016), sendo o RR 1,79 para evoluir com esse tipo de desfecho na presença da hiperlactatemia. A complicação mais frequente encontrada foi a parada cardíaca (52/57; 91,2%), com pelo menos um retorno à circulação espontânea, seguida de insuficiência cardíaca aguda (5/57; 8,8%). CONCLUSÃO: este estudo demonstrou que a hiperlactatemia está associada a piores desfechos clínicos no paciente portador de Covid-19 e SRAG, sugerindo relevância do lactato como marcador prognóstico nesta população.