INTRODUÇÃO: A displasia arritmogênica do ventrículo direito (DAVD) é uma doença genética rara caracterizada pela perda de miócitos e substituição fibrogordurosa, principalmente do ventrículo direito (VD). Entretanto, o envolvimento patológico do ventrículo esquerdo (VE) e biventricular é bem descrito, contribuindo com sua atual nomenclatura: cardiomiopatia arritmogênica (CMA), cuja primeira manifestação pode ser morte súbita cardíaca. Estudos de imagem mostraram pior prognóstico relacionado ao envolvimento do VE.
MÉTODOS/RESULTADOS: Paciente masculino, 24 anos, previamente hígido, compareceu em consulta ambulatorial em 2020, alegando há cinco meses início de palpitações, lipotímia, e primeiro episódio de síncope em jogo de futebol. Investigou-se com, dentre outros exames, ressonância magnética com gadolíneo (RMC) que não apresentou alterações segmentares em VD na ocasião (figura 1), não preenchendo todos os critérios do Task Force de 2010 para DAVD (os quais não incluem acometimento do VE). Orientou-se iniciar bisoprolol 5mg por dia e evitar prática atividades físicas. Retornou em consulta com melhora parcial dos sintomas, realizando teste ergométrico em 2024 (figura 2) com deflagração de taquicardia ventricular sustentada (TVS). Submeteu-se a nova RMC com evidência de comprometimento tanto do VD quanto do VE, estipulando-se como principal hipótese diagnóstica CMA biventricular. Considerando os achados: discinesia de ventrículo direito, com hipocinesia difusa de VD com redução da fração de ejeção (30%); sinais de infiltração gordurosa na parede lateral do VD, anterosseptal, basal e inferosseptal médio do VE, realce tardio mesocárdico nos segmentos anterolaterais, inferolaterais e inferiores (basais e médios) e realce tardio mesocárdico nos segmentos anterosseptal e inferosseptal (médios), do VD pela RMC; inversão de onda T de V1-V5 pelo eletrocardiograma de repouso; TVS em teste de esforço, conclui-se que o diagnóstico é definitivo baseado nos Critérios de Pádua de 2020, pelo preenchimento de pelo menos 3 critérios maiores. Indicou-se, portanto terapia com cardiodesfibrilador implantável (CDI) durante a internação.
CONCLUSÕES: Este caso chama atenção pela relevância clínica de critérios diagnósticos que permitem assimilação do envolvimento do VE, através da RMC, o que vai além do estudo histopatológico ou apenas do envolvimento do VD neste tipo de cardiomiopatia, possibilitando seu correto manejo.