Introdução: A estenose aórtica (EAo) é uma doença progressiva associada a alta mortalidade. Seu tratamento consiste na troca da válvula aórtica. Mais recentemente, o implante transcateter de válvula aórtica (TAVI) possibilitou que pacientes de alto risco fossem abordados de forma segura, incluindo aqueles com disfunção do ventrículo esquerdo (VE). Pacientes com disfunção do VE estão expostos a um risco aumentado durante o procedimento e, também, a longo prazo.O objetivo do presente estudo é analisar a evolução, em quinze meses, de pacientes com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) reduzida, bem como avaliar o comportamento da função do VE após o procedimento.
Métodos: Trata-se de um estudo ambispectivo, unicêntrico, conduzido em São Paulo entre os anos de 2019 e 2024, envolvendo pacientes idosos com estenose aórtica grave submetidos a TAVI. Definiu-se FEVE reduzida como aquela inferior a 50%. O desfecho primário incluiu a mortalidade por todas as causas em 15 meses de seguimento, enquanto o desfecho secundário avaliou a evolução da FEVE, medida por ecocardiograma de controle pós-TAVI.
Resultados: Foram incluídos 547 pacientes submetidos a TAVI com mediana de idade de 82 anos (IIQ 79-86 anos). 327 pacientes (60%) eram do sexo feminino. Os pacientes foram divididos em dois grupos: 104 (19%) apresentavam FEVE reduzida, enquanto 443 (81%) apresentavam FEVE preservada. A mediana do tempo de internação foi de 3 dias (IIQ 2-5 dias) em ambos os grupos. Após 15 meses de acompanhamento, não houve diferença significativa na mortalidade entre os dois grupos (FEVE reduzida: 11,9% vs. FEVE preservada: 9,9%; p = 0,534). Em um seguimento médio de 142 dias (tempo médio até a realização do ecocardiograma de controle após TAVI), observou-se que 72 pacientes (69%) apresentaram alguma melhora da FEVE, e, em 42 pacientes (44%), houve normalização da FEVE após o procedimento.
Conclusões: Não houve diferença na mortalidade entre pacientes submetidos a TAVI com FEVE reduzida e aqueles com FEVE preservada. No entanto, um percentual significativo dos pacientes com disfunção ventricular prévia demonstrou recuperação funcional do VE após a correção da valvopatia.